terça-feira, 21 de dezembro de 2010

UFC 124: George St-Pierre vs Josh Kosheck 2

Com recorde de público e renda (23.152 alucinados torcedores geraram mais de 4,8 milhões de dólares), os canadenses lotaram o Bell Centre e saíram felizes com o que viram. Em mais uma atuação impecável, o grande ídolo canadense Georges St-Pierre destruiu o desafiante Josh Koscheck e começou com pé direito a segunda volta na divisão dos meio-médios. A despeito de todo o falatório pré-luta de Sean McCorkle, o gigante Stefan Struve abocanhou mais uma vitória em sua carreira. Jim Miller mostrou que realmente é um dos tops entre os leves ao tirar a invencibilidade de Charles do Bronx’s. Joe Stevenson, por sua vez, mostrou que é um dos caras mais azarados do MMA sendo nocauteado por Mac Danzig. Na abertura da transmissão, o velho Thiago Pitbull voltou e atropelou John Howard.

A arrecadação proporcionou também a maior premiação de bônus da história do UFC, com 100 mil dólares para cada vencedor de Luta da Noite, Submissão da Noite e Nocaute da Noite.

    Georges St-Pierre (CAN) venceu Josh Koscheck (EUA) por decisão unânime (50-45, 50-45, 50-45)

“Georges St-Pierre faz sempre a mesma coisa”. “As lutas de Georges St-Pierre são chatas”.

Não foram poucas as vezes que eu ouvi e li frases como as de cima. E realmente, tenho que reconhecer que o povo tem razão. O campeão dos meio-médios sempre faz a mesma coisa: dizima quem ousa lhe tomar o cinturão. As lutas dele são realmente chatas, pois não há um único momento sequer, em 25 minutos, que qualquer desafiante chegue pelo menos perto de causar algum dano ao canadense.

Mas desta vez até os detratores do campeão dos meio-médios tiveram que se render. Antes acusado de fazer lutas chatas, somente quedando e batendo, o melhor lutador da atualidade em todos os pesos mostrou que é muito mais do que um ótimo wrestler. Os treinos com Freddie Roach e Manny Pacquiao caíram como uma luva para um atleta inteligentíssimo como St. Pierre. Contra um lutador que gosta de aplicar golpes circulares como cruzados, ganchos e uppers, GSP mostrou que o menor caminho entre dois pontos é a linha reta. No melhor estilo Wladimir Klitschko e Larry Holmes, GSP provou que o jab, quando usado como ferramenta ofensiva (e não somente para marcar distância), pode causar grandes estragos. A soma do karatê kyokushin com o boxe inglês produziu um dínamo que batia durante toda a luta e se esquivava com fluidez, tornando a tarefa de aproximação do americano algo praticamente impossível.

As estatísticas confirmam o massacre: enquanto Kos acertou apenas 30 golpes, sendo 16 significantes, GSP disparou incríveis 136 pancadas, sendo 110 considerados significantes. E não ficou apenas nos jabs. Enquanto a cabeça de Josh foi alvejada 70 vezes, suas pernas foram carimbadas outras em outras 55 oportunidades. Mas este passeio na trocação não significa que St. Pierre foi econômico nas quedas. O campeão conseguiu 4 em 9 tentativas, mesmo em cima de um campeão da NCAA, que só teve êxito em um takedown (tentou 4). Depois de 25 minutos de marretadas precisas e constantes, Koscheck ganhou de presente uma fratura no orbital da face e uma cirurgia. Koscheck dizia, antes da luta, que não sabia se GSP teria coragem de lutar em pé e trocar. Fica a dica: quando enfrentar alguém como Georges, sempre espere de tudo.

Realmente não tem graça nos meio-médios. Falta ainda Jake Shields, confirmado por Dana White como o próximo desafiante, mas acredito que o ex-campeão do Strikeforce terá o mesmo destino dos outros. Na minha opinião, apenas Anderson Silva (ou Vitor Belfort) pode parar GSP. E a reação de Demian Maia reforça o meu pensamento. Respondendo ao comentário de Eduardo Ferreira, que dizia que Georges devia subir de peso, o ás do jiu-jitsu e lutador da elite dos pesos médios do UFC, disse:


    Stefan Struve (HOL) venceu Sean McCorkle (EUA) por nocaute técnico (3:55, R1)

No bizarro co-main event da noite, uma luta, digamos, bizarra.

McCorkle vendeu bem o combate. Zoou o lombrigão de tudo que é jeito. O problema é que ele esqueceu de imitar Chael Sonnen dentro do octógono. Com um condicionamento físico de uma idosa asmática, Sean acabou virando presa fácil para o holandês, que tem altura de pivô da NBA e massa muscular de peso leve do UFC.

A luta chegou a dar impressão que seria interessante. O americano conseguiu erguer o gigante magrinho e aplicar um quedão. Ainda caiu por cima, como era o sonho dele. Mas, em vez de fazer o simples, foi inventar de travar o braço de Struve, provavelmente achando que a americana que aplicou em Mark Hunt era a última coca-cola do deserto. Como optou por não usar o ground and pound, McCorkle pagou caro: foi raspado com incrível facilidade. Uma vez montado, Struve mostrou como se faz, enchendo o já exausto americano de bordoadas no ground and pound. Há quem diga que o árbitro Yves Lavigne interrompeu a luta muito cedo, mas assim foi melhor para o esporte.

    Jim Miller (EUA) venceu Charles Oliveira (BRA) por submissão (1:59, R1)

Como diz o ditado, há males que vêm para o bem. Mesmo que seja às custas de deixar muita gente triste.

O brasileiro, ainda muito novo, já era apontado por muitos como a grande esperança brasileira na divisão em que estamos mais distantes do cinturão. Invicto em 14 lutas, Charles vinha de duas atuações que encheram os olhos de todos. Mas desta vez o oponente era de alto nível.

Empolgado com a ascensão, Do Bronx’s já partiu para cima de Miller logo no começo. Tentou um chute alto e emendou um single-leg bem defendido por Jim. Os lutadores travaram no clinch e foram para o chão, com o brasileiro por baixo. Mostrando ofensividade, Charles tentou um triângulo, puxou o braço direito para uma chave, mas o americano se safou. De repente, numa manobra rápida, Miller pegou a perna do brasileiro e tentou um leglock. Em vez de calçar para se defender, o brasileiro pareceu não acreditar no golpe. Foi quando então Miller apertou uma chave de joelho reta. Charles tentou socar o americano, mas a dor foi intensa e o obrigou a desistir.

Foi triste ver Charles perder, mas acho que ele tem muito o que aprender com o resultado. Como é muito jovem, vai entender na marra que nem sempre as coisas saem como planejado e que o excesso de confiança atrapalha. Mas a derrota veio em boa hora. Como ninguém é invencível, há tempo de sobra para entender e capitalizar todas as lições deixadas no combate.

O resultado deu ao americano o bônus de Submissão da Noite, compartilhado com Mark Bocek.

    Mac Danzig (EUA) venceu Joe Stevenson (EUA) por nocaute (1:54, R1)

No duelo dos vencedores do TUF 3 e 6, pior para o paizão.

Ameaçado de demissão, Danzig tomou a iniciativa com uma esquerda seguida de um chute alto. Joe respondeu com jabs e golpes no tronco. Quando Stevenson parecia começar a dominar o oponente, armou um cruzado de esquerda. Numa fração de segundos Mac leu o movimento do oponente e foi ainda mais rápido, conectando um gancho de esquerda perfeito na ponta do queixo de Joe, que simplesmente caiu para frente, de cara no chão. Danzig ainda foi para o ground and pound final (e desnecessário), mas Dan Miragliotta o tirou de cima para salvar a pele do já nocauteado Stevenson.

Além de manter o emprego, Danzig voltou pra casa com o bônus de Nocaute da Noite.

    Thiago Alves (BRA) venceu John Howard (EUA) por decisão unânime (30-27, 30-27, 30-27)

Como eu tinha certeza que GSP venceria e sabia que a luta do Charles seria duríssima, meu maior medo para o UFC 124 era a condição em que Pitbull adentraria o octógono. Coincidência ou não, desde que André Benkei saiu da American Top Team que o brasileiro tem tido dificuldade de lidar com seu peso natural, muito superior aos 77kg regulamentares da categoria.

Mas foi só a ação começar para o medo se dissipar. Se não era o lutador enorme de outrora (achei ele um pouco mais magro), Thiago apresentou-se em grande forma, tanto física quanto técnica. Maltratou a perna da frente de Howard com verdadeiros mísseis em forma de chute, minando qualquer tentativa de movimentação do oponente. Deixando John limitado, Pitbull passou a variar os ataques, tendo conseguido também belas quedas. E mesmo controlando a vitória no último round, ainda assim venceu os cinco minutos finais, fechando a bela atuação com um 30-27 incontestável.

É um desperdício ver um atleta do nível de Thiago lutando em precárias condições físicas. Num mundo ideal (ou seja, meio-médios sem GSP), Pitbull é seríssimo candidato ao cinturão. Só nos resta torcer para a ATT ter reencontrado seu caminho.

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